terça-feira, 24 de agosto de 2010

Sobre a cultura popular na Amazônia


As portas da minha percepção para a cultura popular foram abertas pelo teatro. Na verdade, o contato com as artes cênicas abriu meu ser para o mundo por meio da literatura, do cinema, da música, e, conseqüentemente, despertou meu olhar para mim mesmo.

A arte foi o primeiro caminho que percorri no sentido de me compreender como ser humano e, posteriormente, como ser social (com isso, porém, não digo que esses dois campos andem separados). Apesar de ter uma certa paixão pela cultura popular, também aprecio a dita cultura erudita. Mas é na rua que me encontro, onde me identifico. No colorido, no riso.

A experiência de vida com a cultura popular em Icoaraci, distrito onde eu moro, localizado a 20km de Belém, foi um fator determinante na minha personalidade. As peregrinações e exibições com o Boi-Bumbá Paraense. As noites de lua ritmadas pelo carimbó do Coisas de Negro. A interação nas apresentações de rua dos cordões de pássaro e de bicho.

Em todas estas manifestações, e a partir da vivência acadêmica e do mergulho em alguns exemplares de sua literatura, vislumbro fechos de luz da alma amazônica, desse homem ainda ligado ao mito/lendas (tão diferente da racional filosofia moderna), com seu jeito próprio de interagir (se integrar) com a natureza.

Ao observar essas manifestações, tão ricas de significado no sentido político mais abrangente, penso sempre no choque ocorrido durante século XVI com a chegada dos europeus à região. Sua visão e ação dominadora, de ordenação racional instrumentalizada, usurpadora. Esse choque rendeu frutos, claro, e o florescer desses frutos estão em vários exemplos da própria cultura popular.

O que me chama mais a atenção na cultura popular é a sua ligação com o povo (diga-se de passagem que estes dois conceitos são extremamente imprecisos e polêmicos), sendo esta uma de suas principais características. Mais ainda é o que este povo faz da cultura popular.

No Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), desenvolvido por mim e pela Yorranna Oliveira, pudemos verificar, por exemplo, por meio do estudo do Cordão de Bicho Bacu, que a cultura popular pode assumir status de comunicação alternativa. Além disso, creio que algumas formas desta cultura possuem um discurso próprio, ainda não ouvido com atenção.

2 comentários:

  1. Cabe a nós, amantes da cultura popular, ouvir este discurso com muita,muita, muita atenção..Abraços, querido!!

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