quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Desencontro

Não era Paris, muito menos um filme de Bertolucci. Encontraram-se perdidos em uma outra realidade, as almas emaranhadas nas teias do vazio, os corpos cansados em meio a tantos sem sonhos. Suas vozes, pedaços alados de si mesmos, adejavam entre o ronco dos motores e o grito das buzinas, a aorta de Belém pulsando ali, entupida de ferro e carne. A Almirante transpirava, o odor quente da sua pele impregnando o ar, sufocando as vidas – óperas de tédio regidas pelo caos. Desconhecidos, eles caminhavam, palavras explodindo silêncios, minadas de solidão. O dia dava adeus à luz, as mangueiras carregadas de melancolia. Aos poucos, o desejo tornava-se tão concreto quanto as ruas pelas quais caminhavam.

Olharam-se rapidamente, a magreza de um em vermelho e jeans, a barba do outro sempre por fazer. Conversaram sobre tudo, menos sobre o nada que apodrecia e começava a feder dentro dos dois. Sabiam porque estavam ali, mas não adivinharam onde cada um queria chegar, o lixo amontoado nas esquinas, emoções espalhadas pelo peito. Mecanicamente, revolviam pequenas alegrias, os dejetos de suas vidas, escalavam os andaimes de suas esperanças, rebocavam de certezas as construções em tijolo cru de seus sonhos. Esqueceram seus nomes, o minuto seguinte prenhe de mistério. Havia algo de irreversível naquele encontro, pensaram juntos, mas apenas em um a dor foi verdadeira.

Chegaram à casa, sem chegar a lugar nenhum. Inconscientemente, mantiveram-se na superfície, seguros longe do inferno um do outro, protegidos contra si mesmos. Olharam-se de novo, agora a luz amarela pintando sombras em seus rostos, o desejo se escondendo atrás dos olhos. Ele, sentido-se estrangeiro, emancipava Marabá, desfiando seus dias de lama em Belém. O outro, estrangeiro nele mesmo, sorria, calava, ouvia, esperava. Não perceberam o calor, os demônios, mas estavam no inferno, o fogo consumindo os egos, pulverizando os pudores. Aos poucos entenderam: eram dois homens, isolados do mundo lá fora, vagando entre a brutalidade e a delicadeza de seus corpos, de suas emoções. E, sem querer, reconheceram-se um pouco um no outro, sem dor ou espanto, mas com a certeza de que talvez não se vissem mais, o labirinto da vida os separando.

Hipnotizados pela deusa de voz de jazz e blues, subiram ao paraíso, a escada gemendo sem nenhum prazer. Lá, sentiram-se mais próximos, o desejo cavalgando no ar, a música ritmando seus pensamentos. E então, as palavras libertaram-se das bocas, nuas, impondo cores quentes à palidez das paredes, vida ao corpo morto dos livros, das camas, da TV. Por um segundo, viram um anjo voando pelo quarto, em um bater de asas vermelho, o corpo seminu. Calaram-se. Já haviam se perdido, entenderam, o silêncio rindo dos dois, o desejo encolhido num canto do quarto, dentro deles.

Tentou sair dali, do lugar nenhum onde estavam, mostrou Caio para ele, as letras encharcadas de poesia, seu mundo posto em carne viva. Ele leu e não conseguiu digerir, o sabor em sua boca lhe causando náuseas. Não adiantou o outro dizer que aqueles morangos eram obra-prima, ele os vomitou como que enjoado pelo mofo. Aquela beleza não lhe pertencia, percebeu.
Quero foder contigo, ele disse, as palavras inseguras, agarradas à garganta dele. E mal elas se despiram, o outro já estava nu, a alma sem roupa havia tempo. Olhou para ele, os pelos perdidos pelo abdômen, o pau de macho adulto no corpo de menino: a boca transbordou um rio. Aproximou-se, o cheiro quente de pica estapeando seu rosto.

Por um momento, quis que realmente fosse um homem que estivesse ali, o pau grosso enfiado em seu cu, a vontade de nunca mais sentir-se sozinho. Exploraram a geografia do quarto, de suas fantasias, juntos talvez pela última vez, um dentro do outro, o amor longe de ambos. Não haverá nós dois depois daqui, pensou, e gemeu uma dor profunda, esquecida do prazer. Queria mais e teve, todo, rápido, doce, de repente, fundo. Desejou o outro sempre ali: dentro, mas além de seu intestino, mergulhado em sua alma. Sem querer, pressentiu o fim, como num filme. Uma lágrima escorregou de seus olhos, o sol escorregando do céu.

Amar seria fácil demais, não houvesse o abismo entre o pau de um e o coração do outro. Tinha de ir, de voltar. Marabá o esperava, as vidas de ilusão sem cinema, o cenário das ruas sem teatro. Não pertencia àquele clima chuvoso, ao caos do asfalto, à ninguém. Já havia perdido tempo demais com ele, transado demais com outros e nada mais o faria ficar. Ainda ajoelhado, o outro pediu, mas o anjo havia desaparecido.Desceu, a escada anunciando cada um de seus passos. Só, o outro o ouvia abrir o chuveiro, a água compondo uma canção de despedida em seu corpo. O ocaso o olhava, ali sentado, algo estranho dentro do peito. Não notou antes, mas agora via o sangue coagulando em seus pelos. Estava ferido, pensou, e nu cambaleou até a varanda, o purgatório. Viu seu rosto em close-up, o olhar brando acariciando Belém, úmido de saudade. Observou a cidade, devagar, o tédio dos edifícios, a solidão das casas antigas, a arquitetura triste das árvores. O dia estava morrendo, sorriu, ele também. A cidade não era Paris, nem eles personagens de Bertolucci, pensou.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Do que te importa isto?

Hein? Por que tu queres saber quem eu sou? O que te importa? Por que vens me procurar agora, só agora? Não, não precisas ir embora, eu falo (a mão direita semi-fechada, leva-a até o nariz e respira fundo. Olha para o nada, sorri): eu faço malabarismos nas esquinas e sinais com minhas emoções, mágoas, medos. Tento ganhar um trocado de compaixão, compreensão, um sorriso de afeto que me aqueça. Já não tenho nada assim maltrapilho de sonhos, fedendo a esperanças mortas, o corpo magro coberto pela sujeira das desilusões. Só tenho fome de carinho, amor eu acho, tenho fome da companhia de alguém que me ouça, me entenda, que me ajude a compreender esse sem sentido dentro de mim, segure a minha mão e me guie por esses caminhos obscuros tão meus mas, ao mesmo tempo, desconhecidos, estranhos. Tenho fome de um colo que me embale e me ajude a esquecer esta dor cotidiana de estar vivo – seja lá o que isso signifique, se é que significa alguma coisa! -, de existir tão grande aqui dentro e, fora, me perder em palavras banais, gestos descompassados que, no fundo, sempre no fundo, dizem muita coisa de mim mesmo sem conseguir dizer nada, nestas gargalhadas coloridas e descontroladas que escondem perfeitamente a paisagem cinza opaca que trago no peito há tempos e não sei dizer ao certo por quê (de novo a mão no nariz, a respiração funda, o nada, o sorriso).

Sei lá, não lembro. Não, não adianta insistir. Não me pergunte como eu cheguei aqui porque eu não sei explicar. Não sei como vim parar aqui nesta calçada nem como vou parar nas outras, ninguém sabe. Os outros também não sabem como vieram, simplesmente chegaram e ficaram. Do que te importa isto? Não sei como cheguei aqui, não sei porque estou seminu e cheirando cola para tentar esquecer destas fomes que te falei há pouco. Não sei como vim parar entre tantos saltos-altos, meias-calças, sapatos sociais, ternos, blazers, maquiagens, chapinhas, plásticas, caras lisas de barbas bem feitas, entre estas carnes brancas que, de tão perfumadas, fedem à desprezo esnobismo egoísmo assim tudo junto, de uma só vez. Estas carnes malhadas e protegidas contra o sol que, bem lá no fundo onde elas nunca se deram ou darão o trabalho de chegar, fedem muito mais do que eu – eu que até já esqueci a sensação da água acariciando a minha pele, agora mais escura de tanto sol, o mesmo do qual elas estão protegidas, encrostada desta lama que eu visto por baixo do meu short velho e esfarrapado. Carnes brancas que mesmo assim de longe, quando se desviam do meu olhar creio que meio vazio, um pouco sem vida de anestesia, liga, viagem, tristeza, eu sei que são tão frias quanto as noites que passo aqui, entre meus iguais, irmãos, pais, deitado sobre os jornais de mentiras que tu todo dia escreves, embrulhado em papelões de fantasias perdidas, alegrias esquecidas por tantas baforadas de cola...( os mesmos gestos e reações) Me dá um real aí tio?

Estás vendo estes dentes claros de mastigar bons alimentos, nestes sorrisos falsos de bocas politicamente corretas? (aponta com um dedo ferido, a unha grande preta de sujo por baixo) são tão diferentes dos meus cariados da falta do que comer, doloridos de morderem nada todos os dias. Mas eu sei que estas bocas cheias de bondade ao falar são mais podres do que estes bueiros aqui ó e no interior dos seres que têm estas bocas há tantos ratos e baratas e lixo e lama quanto dentro destes esgotos e estes seres me enjoam mais o estômago do que os bueiros. O que é, nunca me viu? Sua velha enrugada de avareza. (dá três baforadas seguidas) Queres experimentar tio?

(gargalha descontroladamente) Não consigo não achar graça de quem tem medo da minha desgraça, quem finge que não vê minha felicidade roubada, quem nega a existência desse vazio que eu sou – que tenho dentro, estou cheio – porque todos vocês têm um igual ao meu, têm um eu dentro de cada um de vocês, inclusive tu aí, que fica me perguntando estas coisas chatas, enchendo meu saco com esta cara de pena, me olhando como se fosse me ajudar mas, no fundo – bem lá no fundo onde tu tens um escuro que nem o meu, e tu és igual a mim, todo mundo é – não vai fazer nada, porque vais me esquecer na próxima curva de uma puta, entre as palavras vendidas que escreveres amanhã, no próximo copo da tua cerveja sagrada de todo fim de semana, no primeiro pega do primeiro cigarrinho de maconha que tu fumares lá na República com teus amiguinhos de preto metidos a tristes e rebeldes, ou então quando sentares na tua poltrona preferida num desses cineminhas alternativos que tu gostas de freqüentar nesta cidade de merda quente suja fedorenta. Não precisa te explicares, nem tentar esconder teu constrangimento, é sempre assim, já estou acostumado. Do que me importa saber se vou estar amanhã nas páginas de um destes jornais do caralho, para mim eles só servem para forrar o chão e limpar meu cu depois que eu cago, só para isso (a mão, o nariz, olhos revirados, a alegria repentina e calma).

Não, não sei quando eu nasci, vivo o tempo, só isso, não preciso contar ele como tu e todo o resto, porque o tempo não significa nada para mim. Não, não lembro quantos anos eu tenho, mas acho que mesmo assim sujo jogado drogado e esquecido, acho que eu ainda sou uma criança.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Descobri um duende no meu jardim


Para Dani Franco, minha duende


Assim como quem já não esperasse mais nada, passo a passo mais desiludido – dentro, no fundo -, e vagasse meio cego e tonto pelas vielas de lixo e merda, sufocado pela decadência exposta em cada esquina da cidade que, de tanta chuva e sol e vento, foi deteriorando-se, rachaduras e limo nas paredes, emoções, ele caminhava disperso em meio aos dias, encarando de frente mas sempre com certo medo o mundo fora da noite da qual ele vinha, estava, para além da solidão que lhe acompanhava.

Assim como quem já perdeu tudo, as mãos vazias de qualquer sentido (dedos amarelos, olhos vermelhos), apenas um incômodo profundo no peito sem explicação para ele, não chegava a ser dor, só incômodo, alimentado fartamente com o vazio dos dias – os mesmos nos quais vivia disperso -, de alguns iguais, do vazio que ele mesmo por tanto tempo (na verdade, não passavam de duas décadas, mas para ele, dentro, eram séculos acumulados, vividos) cuidou e guardou como cuida-se com ternura e guarda-se com carinho um amor (mesmo ele ainda não sabendo o que é o amor!), ele olhava-se no espelho, nu, os pelos eriçados, o pau murcho, aquele ar de tristeza que dizia ser hereditário, e não reconhecia-se, estranhava-se e sentia que estava, ainda, vagando entre ele e ele mesmo, perdido em meio a muito lixo, rachaduras, emoções e merda, como quem vagasse pelas ruas da cidade, e tentava chorar sem conseguir, o engasgo das lágrimas ausentes impedindo-lhe de respirar, de dizer, e desesperava ao descobrir (porque para ele cada descoberta sobre si mesmo era um pequeno desespero) que sem perceber deixou-se ir secando como flor ou fruto, apagando o brilho, como se estivesse num eterno outono, folhas secas no asfalto, de tão exposto ao sol, à chuva, ao vento, sem nunca ou quase nunca regar-se, podar, conversar consigo, com outros iguais.

Assim como quem vem de qualquer lugar muito distante e vai para lugar nenhum desconhecido, sem aperceber-se do perfume de jasmim lá fora no jardim - sem aperceber-se que era um jardim -, insistindo inconscientemente em desconhecer-se, olhos e coração fechados, o corpo já curvado do fardo de ser assim, a alma um pouco pesada de tanto entulho espalhado, poeira e mofo; mágoas, dores, raivas boiando pelo chão alagado de lágrimas e lama, o ralo entupido, diluídas nos risos opacos de bom dia, gestos superficiais de afeto – formalidades cotidianas.

Assim ele caminha noturno pelas ruas escuras, iguais embrulhados em papelões pelas calçadas, ele talvez também encolhido num canto, o vento soprando forte e ruidoso compondo uma música soturna com o farfalhar das mangueiras, uma lua nova iluminando seu rosto triste, ele descendo a passos largos a Carlos Gomes, o incômodo agora identificado como um enjoo no estômago, uma intensa e constante vontade de vomitar sem conseguir, já não se sentindo, estranhamente, tão só como antes, horas atrás, a noite se adensando sobre seu corpo, sem medo: pega a chave verde, abre o portão, sobe a escada, atravessa o corredor, gira a chave vermelha na fechadura da porta, entra, um bafo quente estapeia seu rosto, acende a lâmpada e, de repente.

De repente ele pensa que errou o caminho de volta, entrou na casa de um desconhecido, um pouco assustado com as paredes claras e limpas, o perfume de jasmim pairando pelo ar, então entra em seu quarto e percebe que tudo está em seu lugar porém, ao mesmo tempo, tudo está mudado. Distraído, segue o perfume adocicado de jasmim - não tinha percebido que o outono já passara e o jasmineiro estava florido (pequenas flores brancas reluzindo na noite) -, ainda é noite, mas sentia já a brisa morna do amanhecer, um hematoma no céu em degradé, o sol nascendo dentro dele, aproxima-se da janela e.

E, por mais que não fosse, era assim como que a primeira vez, olha com mais atenção para além da janela, os olhos levemente umidecidos, e, com certo espanto, apesar de toda calma que o tomava, vê no meio do jardim, colorido, sorridente e complacente (e agora percebe que ele também o olha lá de fora), ele olha e vê: um duende.

A tristeza desfaz-se no rosto dele e, subitamente leve, ele então sorri iluminado e vivo e desarma-se contra o amor.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Conferência de Copenhague: para quem?

Às vésperas de um dos debates mais importantes deste século, sobre as mudanças climáticas, ou seja, o futuro do planeta, ainda há incertezas quanto ao compromisso de países como os Estados Unidos em assumir a responsabilidade de diminuir a emissão de dióxido de carbono (CO²) no ar.

Leia aqui http://www.litci.org/Portugues/MateriaPT.aspx?MAT_ID=1969 uma visão socialista sobre o assunto.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Um bilhão de mortos-vivos contra as Cutrales do mundo

Texto de José Arbex Jr. publicado na Caros Amigos de novembro.


“Pela primeira vez na história, mais de um bilhão de pessoas estão subnutridas no mundo inteiro. Isso representa cerca de 100 milhões a mais do que no ano passado e significa que uma a cada seis pessoas passa fome todos os dias. Este recente aumento da fome não tem sido consequência das fracas colheitas a nível global, mas sim resultado da crise econômica mundial, que tem reduzido rendas e oportunidades de emprego, assim como o acesso aos alimentos por parte da população mais pobre. (...) A crise espreita os pequenos agricultores e as áreas rurais onde trabalham e vivem 70% das pessoas que passam fome no mundo.”

O diagnóstico é feito por Jacques Diouf, diretor geral da FAO (órgão da ONU para a agricultura e alimentos), durante a celebração do Dia Mundial da Alimentação (16 de outubro). Trata-se de uma crise “sem precedentes” na história mundial, afirma Diouf: entre 2006 e 2008, observou-se um aumento contínuo dos alimentos básicos. Notem a ironia: justamente nas áreas rurais, aquelas responsáveis pela produção de alimentos, “vivem 70% das pessoas que passam fome no mundo.”

“Na África Subsaariana, 80 a 90% de todos os preços dos cereais monitorados pela FAO em 27 países, continuam sendo 25% mais altos do que antes do começo da crise dos alimentos, dois anos atrás. Na Ásia e na América Latina e o Caribe, os preços são monitorados num total de 31 países, e entre 40 e 80 % do preço dos cereais mantêm mais de 25 % mais alto do que no período pré-crise dos alimentos. E a nível local, em alguns países, os preços dos alimentos básicos não sofreram qualquer tipo de baixa. Além disso, a produção continua sendo obstruída pelo aumento do custo dos insumos, – 176 % no caso dos fertilizantes, 70% sementes, 75% ração para os animais, tornando o investimento na agricultura extremamente difícil.”

O que Diouf não diz diretamente, mas apenas nas entrelinhas de uma linguagem diplomática que causa náuseas, é que a razão para o aumento da fome e da subnutrição, especialmente no campo, é bastante simples: a crescente concentração de riqueza, traduzida na implantação de vastos latifúndios que exploram monoculturas. Se aumenta a produtividade do campo mediante o uso de tecnologias cada vez mais sofisticadas – afirmação, aliás, que deve ser analisada com muita cautela –, piora muito a situação de quem não tem acesso a essas mesmas tecnologias.

Um singelo dado, também divulgado pela FAO, mostra isso com grande clareza: em franco contraste com o crescimento da fome, da subnutrição e da pobreza nas áreas rurais, há um próspero crescimento das vendas de máquinas agrícolas cada vez mais sofisticadas, muitas delas guiadas por robôs orientados via satélite (com o sistema GPS). Entre 2000 e 2005, o comércio mundial de máquinas agrícolas cresceu à razão de 6% ao ano, muito mais do que a produção de comida no mesmo período (2,6% aa) e o da população mundial (1,2% aa). Entre 2005 e 2010, prevê-se um crescimento respectivo de 4,8%, 2,5% e 1,1%. Em termos absolutos, a demanda global por máquinas agrícolas cresceu de 53 bilhões de dólares em 2000 para 70 bilhões em 2005 e deverá chegar a 88 bilhões de dólares em 2010.

Mesmo levando-se em conta que as compras de máquinas pela Índia e pela China são, em boa parte, responsáveis pelo crescimento do setor, é óbvio que existe uma relação direta entre a crescente mecanização da agricultura e o aumento da fome, como consequência da concentração da propriedade e da renda. Nas grandes culturas mecanizadas, um único trabalhador pode cultivar cerca de 200 hectares, com altíssimo índice de produtividade (medido em toneladas de cereais por trabalhador por ano), graças a investimentos em tecnologia, bioquímica, seleção de sementes etc. Em contrapartida, menos da metade dos trabalhadores rurais dispõe de tração animal para tocar suas culturas, e cerca de 1/3 estão completamente à margem da “revolução verde”. São os camponeses pobres que formam o vasto exército de seres humanos forçados, quando podem, a vender sua força de trabalho por valores aviltantes em grandes plantações (não raro, os “salários” situam-se no limite de dois dólares diários, valor que serve de parâmetro de linha de pobreza para o Banco Mundial).

É óbvio que ninguém propõe, aqui, a destruição das máquinas e a volta à agricultura rudimentar como solução para a fome. Trata-se de fazer exatamente o oposto: colocar a máquina a serviço do ser humano. Para isso, comida teria que deixar de ser tratada como commodity, artigo de especulação negociado em mercados futuros, sem qualquer relação com a demanda real da população. O comércio da comida deveria ser submetido ao primado da segurança alimentar, priorizando o ser humano e não o lucro.

Mas, no pé em que está o “mercado globalizado”, a FAO há tempos admite a barbárie: a Cúpula Mundial da Alimentação definiu, em 1995, o objetivo de reduzir pela metade, até 2015, o número de pessoas que passam fome no mundo. E o que fazer com a outra metade? Atenção: estamos falando de 500 milhões de seres humanos condenados à morte por fome (isto é, se fosse mesmo possível mitigar as demandas de proteína da outra metade, hipótese cada vez mais longínqua).

É esse, concretamente, o contexto em que atuam a Cutrale (grileira de terras públicas, exportadora de suco de laranja e superexploradas do trabalho de seus empregados) e outras agroempresas. Elas não têm nada que ver com a “alimentação do povo brasileiro” ou de quaisquer outros povos, como quer fazer crer a asquerosa campanha de mídia destinada a criminalizar o MST pela ocupação das terras da Cutrale. São empresas que se destinam ao ramo da especulação financeira, como qualquer banco ou corretora da bolsa de valores, com o agravante de que operam com uma mercadoria sagrada, o alimento, e exploram aquilo que deveria ser tratado como um bem comum: a terra.

A “mídia gorda” e seus especialistas ocultam a profunda, total e inegável relação entre a especulação com o alimento e a tragédia que envolve 1 bilhão de seres humanos famintos (e mais de 2 bilhões em estado de subnutrição e expostos a todo o tipo de doenças e epidemias causadas pela falta de proteínas). Eles produzem, assim, uma total inversão de valores: são criminosos os que lutam em defesa do mais sagrado dos direitos humanos, o direito à vida, e são tratados como vítimas (e heróis) os monstros, os carrascos, os que especulam com a comida. Não há limite para a canalhice.

A “mídia gorda” fez absoluta questão de ocultar a reivindicação central do MST no “caso Cutrale”: a formação de uma comissão de investigação, integrada por personalidades respeitadas por toda a sociedade, para apurar a verdade dos fatos. Os donos da mídia sabem que isso não pode acontecer. Não está em jogo, apenas, saber se o MST destruiu ou não meia dúzia de pés de laranja, mas sim o significado do agronegócio para o Brasil e para o mundo. 1 bilhão de mortos vivos serviriam de testemunha de acusação em tal julgamento

José Arbex Jr. é jornalista

Das entranhas do Judiciário às úlceras sociais

Em entrevsita à revista Caros Amigos de novembro, a juíza Kenarik Boujikian Felippe afirma que o Estado brasileiro continua matando muito e, pior, utilizando os mesmos mecanismos de tortura aplicados durante a Ditadura Militar (1964-1985).

Leia parte da entrevista aqui http://carosamigos.terra.com.br/.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

20 de novembro - Dia da Consciência Negra

Hoje é dia de luta em todo Brasil. Na data 20 de novembro, desde a década de 1960, comemora-se o dia da Consciência Negra, em referência a morte do líder do Quilombo dos Palmares, Zumbi, em 1695.

Entre as discussões sobre o negro na sociedade brasileira, ainda persiste a questão do racismo, a desigualdade social e a marginalização. Ao longo dos anos, e a base de muita organização e luta, o movimento negro obteve vitórias, como a criminalização do racismo. Por outro lado, o preconceito, agora velado, continua e, cada vez mais, os jovens negros das áreas periféricas são marginalizados e mortos, como nas favelas do Rio de Janeiro.

Abaixo segue uma música relacionada ao assunto.


Canto Das Três Raças
(
Mauro Duarte E Paulo César Pinheiro)

Ninguém ouviu um soluçar de dor no canto do Brasil
um lamento triste sempre ecoou, desde que o índio guerreiro
foi pro cativeiro e de lá cantou
Negro entoou um canto de revolta pelos aresno Quilombo dos Palmares, onde se refugiou
Fora a luta dos Inconfidentes pela quebra das correntes
nada adiantou
e de guerra em paz, de paz em guerra
todo o povo desta terra quando pode cantar
canta de dor

Ôh ôh ôh ôh ôh ôh ôh ôh ôh ôh ôh ôh ôh ôh ôh ôh
Ôh ôh ôh ôh ôh ôh ôh ôh ôh ôh ôh ôh ôh ôh ôh

E ecoa noite e dia, é ensurdecedor
ai, mas que agonia o canto do trabalhador
esse canto que devia ser um canto de alegria
soa apenas como um soluçar de dor.

Ôh ôh ôh ôh ôh ôh, ...

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

I Conferência Estadual de Comunicação

Amanhã, 19, inicia-se a etapa estadual da I Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), que será realizada de 14 a 17 de dezembro. A Conferência Estadual irá até o sábado, 20, no Parque dos Igarapés, no Conj Satélite, a partir das 15h. Esta etapa tirará delegados para a Confecom, sendo 40% para a sociedade civil, 40% para os empresários e 20% para o governo.

Para participar, basta se inscrever pelo site www.confecom-pa.com.br.

terça-feira, 3 de março de 2009

Após camisinha, Bolsa-Vaselina do Governo

Creiam pessoas!, quem escreveu a matéria abaixo foi um jornalista e em pleno século XXI. Não podemos discutir os meios de comunicação sem antes repensar o próprio ser humano!

**

Sábado, 07 de Fevereiro de 2009
Artigo: Tribuna Feirense, 04 de Fevereiro de 2009 - Coluna, Feira em preto e branco.

Após camisinha, Bolsa-Vaselina do Governo
por Franklin Maxado

O ministério da saúde sensibilizado com as dores dos “gays, bixas, viados, baitolas, quariras, travestis,frescos, xibungos, bonecas, maricas, transexuais e que outros nomes dêem ao terceiro sexo, acaba de comprar mais de um milhão e meio de reais em saquinhos plásticos com vaselina para distribuir nos postos de saúde. São cinqüenta milhões de saches vaselinizados. Tomando como exemplo a distribuição de camisinha, a coisa já deve estar viabilizada para o carnaval que se aproxima com tudo em cima para quem quiser desbundar em coisa dura ou grossa.

A medida é também um incentivo para enrustidos, incubados, indecisos e vacilantes para fazer um desbunde geral. Assim só vai sentir dor no prazer que desejar ou não estiver prevenido. Ai, de foto, queima a rodinha, principalmente que gosta de dançar o ritimo angolano do “cuduro” que estar entrando na moda.

A Medida já estar conhecida por “Bolsa Vaselina” e deve sensibilizar os leitores desse segmento para votar naturalmente na candidata do PT. Espera-se muita urna cheia.

Acredito também que as mulheres tenham o direito a receber o tal gel, que ainda não sabemos se é incolor ou se virá na cor rosa. Ou se será sem cheiro ou perfumado. Assim, se forem pegadas a força por estupradores, elas ofereçam a bolsinha com vaselinas e peçam para passarem. Ou, elas mesmas passem evitando maiores danos. É aquela saída do Paulo Maluf que disse: “Se é inevitável, relaxe e goze”. Muita gente que roda a bolsinha sem nada dentro, pode agora, pelo menos trazer o saquinho de vaselina. E alterar o ditado que diz que um homem prevenido, vale por dois. E, na conversa, ao invés de encher o saco, pode esvaziá-lo sem dor.

O Governo Federal, nestes tempos de crise, motiva assim desocupados e da produção para indústria de plástico, pericialmente a Petrobras, que a maior fabricante de vaselina. Depois, não falem que o Brasil esta avançando dando para trás.

Ou, quer é dirigido por “bunda moles”.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Feapa: Mauro Leônidas, novo diretor, fala sobre gestão


Próxima de completar oito anos, em 17 de maio, a Faculdade de Estudos Avançados do Pará (Feapa) iniciou 2009 com novas mantenedora e direção. Agora gerida por Edson Franco Jr. e dirigida por Mauro Leônidas, a instituição passa por transformações administrativas e pedagógicas. Nesta fase inicial, o novo diretor ainda avalia o cenário deixado pela antiga gestão. Segundo ele, as mudanças já podem ser percebidas.
"A mudança não precisa ser dita, mas sentida. Sigo um modelo de gestão que evita trabalhar com expectativas, é mais interessante sentir o resultado", diz. Formado em Matemática pela UFPA e em Administração e Pedagogia pela União de Ensino Superior do Pará (Unespa), como a Unama era conhecida, Mauro Leônidas já tem prática com direção de instituições de ensino superior (IES).
Mestre em Recursos Humanos pela Unama e pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Mauro já dirigiu a Faculdade do Pará (FAP) e a Escola Superior Madre Celeste (ESMAC). Além disso, ele é avaliador de cursos do MEC/Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais). De acordo com Leônidas, sua relação com toda a faculdade (coordenadores, professores, alunos e funcionários) se pautará no diálogo e na transparência, resultando no aumento do nível de informação institucional. "Você pôde perceber que eu não paro na sala. Gosto de eu mesmo levar os documentos aos seus setores de destino, assim estreito relações com as pessoas e sei o que acontece também".
A mudança, porém, traz dificuldades. E em alguns casos, enfrenta resistência. Para Mauro, o principal empecilho encontrado, ao assumir o comando da Feapa, foi a cultura administrativa herdada dos antigos diretores - completamente diferente do modelo imaginado por ele. "Isso é um complicador, pois às vezes tenho de mudar cabeças e até pessoas", afirma.

Nova Gestão
A mantenedora responde pela gerência financeira da IES, ou seja, assume a propriedade do negócio. Neste caso, Edson Franco Jr. é o responsável por gerir financeiramente a Feapa e Mauro Leônidas cuida da administração pedagógica. Dessa forma, a troca de mantenedora implica novas diretrizes.
Entre elas, Mauro aponta a excelência como sua principal missão na faculdade. "Temos ainda como diretrizes melhorar a qualidade de ensino e a marca da Feapa. Isso significa que queremos formar cabeças pensantes e não técnicos", completa, explicando que o artigo 'A', posto antes do nome Feapa, representa qualidade, conceito máximo.
Para tanto, Leônidas avalia as demandas da instituição e, segundo ele, está reestruturando os estúdios de TV, rádio e fotografia. Além disso, a partir de levantamento feito com as coordenações junto aos professores, a biblioteca ganhará novos livros, cuja aquisição está em fase de cotação de preços. "A biblioteca é o coração da instituição", comenta.
Os projetos de extensão também têm prioridade. "A idéia é realizar atividades, trazendo, por exemplo, outros professores e profissionais atuantes no mercado para complementarem na formação, contribuírem", diz.
Ao pensar a educação de forma integrada, na qual a faculdade interage com a comunidade, Mauro pensa o espaço acadêmico como um vetor para formar pensadores, críticos, aptos a exercer o ofício escolhido dentro de um contexto sócio-polítco-econômico. Para ele, a academia deve oferecer formação sólida, conhecimento técnico e científico. “Queremos que os alunos sintam orgulho de ter estudado na Feapa”.

(Revisão: Yorranna Oliveira)

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

"Porque o jornalismo é uma paixão insaciável que só se pode digerir e humanizar mediante a confrontação descarnada com a realidade"

Gabriel García Márquez