Inabilidades com o eu

Uma das sensações mais estranhas que já senti vivendo, e às vezes ainda sinto, é ter a impressão de que não conseguia dirigir meu próprio corpo. Como um automóvel, mesmo. Como se eu, por dentro, fosse menor ou pequeno demais para controlar esse meu ser por fora. A consequencia prática dessa sensação se refletia nos meus gestos descompassados e em constantes atropelos de objetos e pessoas.

Hoje, talvez um pouco mais maduro (gosto desta expressão, porque nos compara simbolicamente com frutos), percebo que essa sensação fazia eu me encarar como se fosse uma criança dentro de um corpo envelhecendo externamente em desarmonia com o de-dentro. Mas creio que sempre tive a consciência atenta observando esta condição de existente. Porque creio que tudo isso tem haver com a minha existência em si, como ser humano.

Daí, o motivo de eu escrever agora. Ao me remeter à essa sensação, penso no sentido da aprendizagem. Não desse aprender formal, oferecido pelas escolas e universidades. Refiro-me, no entanto, à infinita aprendizagem que é viver, conhecer a si mesmo (em convivência com os outros), sempre descobrindo formas e cores novas onde temos certeza de haver apenas uma informe opacidade.

Enfim, o fato de eu nunca simplesmente me conformar em estar vivo, e por isso querer compreender minha existência, às vezes me dava a velada arrogância de achar que já me conhecia, entendia, quando, na verdade, aquela criança dentro de mim estava apenas tentando mover um músculo qualquer. Querendo, minimamente, se reconhecer.