Sinto, e mais uma vez posso estar enganada, como tantas vezes já disse, porque nisso de sentir quase sempre me confundo, iludo, mas sinto como se lá no fundo tudo que houvesse ou tivesse ficado no lugar de qualquer coisa que agora não sei mais o que é, dizer, porque talvez eu ainda não saiba compreender muito do que se passa comigo, dentro de mim, enfim. Mas como eu ia dizendo, mais uma vez (sempre tive essa mania de me repetir que, apesar de parecer inconsciente, me repito mesmo para ver se entendo ou enraízo no profundo disso que chamo de eu pelo menos um pouco do que vou dizendo para fora, digo em excesso, eu sei!, por isso às vezes acho tão difícil tentar falar disso que estou querendo dizer agora),
os olhos cantando o silêncio dos abismos , a boca grafando no tempo ecos desse outro soturno, quase sempre triste, mesmo quando vaga sem sentido pelas ruas da cidade uma manhã de quem posso ser
como se das profundezas de mim emergisse um outro tão turvo quanto este que sorri, trabalha, escreve e dissesse que não, que nada, que nunca! então mergulho nas incertezas do que sentir, pensar, fazer e, sempre sem conseguir, tento chorar como para desaguar essas emoções estranhas e insistentes que correm sem rumo dentro do peito e, esquecido de mim que sou, me afogo porque ainda não aprendi a nadar, a correnteza me levando violenta, homem frágil, sentimentalmente bruto.
segunda-feira, 4 de outubro de 2010
terça-feira, 24 de agosto de 2010
Sobre a cultura popular na Amazônia
As portas da minha percepção para a cultura popular foram abertas pelo teatro. Na verdade, o contato com as artes cênicas abriu meu ser para o mundo por meio da literatura, do cinema, da música, e, conseqüentemente, despertou meu olhar para mim mesmo.
A arte foi o primeiro caminho que percorri no sentido de me compreender como ser humano e, posteriormente, como ser social (com isso, porém, não digo que esses dois campos andem separados). Apesar de ter uma certa paixão pela cultura popular, também aprecio a dita cultura erudita. Mas é na rua que me encontro, onde me identifico. No colorido, no riso.
A experiência de vida com a cultura popular em Icoaraci, distrito onde eu moro, localizado a 20km de Belém, foi um fator determinante na minha personalidade. As peregrinações e exibições com o Boi-Bumbá Paraense. As noites de lua ritmadas pelo carimbó do Coisas de Negro. A interação nas apresentações de rua dos cordões de pássaro e de bicho.
Em todas estas manifestações, e a partir da vivência acadêmica e do mergulho em alguns exemplares de sua literatura, vislumbro fechos de luz da alma amazônica, desse homem ainda ligado ao mito/lendas (tão diferente da racional filosofia moderna), com seu jeito próprio de interagir (se integrar) com a natureza.
Ao observar essas manifestações, tão ricas de significado no sentido político mais abrangente, penso sempre no choque ocorrido durante século XVI com a chegada dos europeus à região. Sua visão e ação dominadora, de ordenação racional instrumentalizada, usurpadora. Esse choque rendeu frutos, claro, e o florescer desses frutos estão em vários exemplos da própria cultura popular.
O que me chama mais a atenção na cultura popular é a sua ligação com o povo (diga-se de passagem que estes dois conceitos são extremamente imprecisos e polêmicos), sendo esta uma de suas principais características. Mais ainda é o que este povo faz da cultura popular.
No Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), desenvolvido por mim e pela Yorranna Oliveira, pudemos verificar, por exemplo, por meio do estudo do Cordão de Bicho Bacu, que a cultura popular pode assumir status de comunicação alternativa. Além disso, creio que algumas formas desta cultura possuem um discurso próprio, ainda não ouvido com atenção.
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segunda-feira, 23 de agosto de 2010
Livro "Mestres da Cultura"
A cultura popular produzida no distrito de Icoaraci, a 20km de Belém, é o tema central desta pesquisa realizada por Auda Piani e Sílvio Figueiredo. Como resultado do trabalho teórico e de pesquisa de campo, dois produtos foram produzidos: um documentário e um livro, chamado "Mestres de Cultura".
O "Mestres da Cultura" serviu de referencial teórico para minha pesquisa do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) sobre o Cordão de Bicho Bacu, intitulada "Da cultura popular à mídia radical alternativa: um estudo sobre o Cordão de Bicho Bacu". O TCC foi realizado em parceria com a amiga, hoje jornalista, Yorranna Oliveira.
Leia o livro na íntegra e conheça um pouco mais da cultura icoaraciense: Livro Mestres da Cultura
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quinta-feira, 19 de agosto de 2010
Grupo Oficina traz "Dionisiacas" a Belém
O Grupo de Teatro Oficina, dirigido pelo antológico José Celso Martinez Corrêa, inicia hoje a série de espetáculos "Dionisíacas", que traz a Belém quatro montagens da trupe. Entra em cena nesta noite "Taniko, o rito de passagem", às 20h, no Tetro Extádio, localizado na Praça da Bandeira. A entrada é 1kg de alimento não perecível.
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
Da Amazônia
Ainda no período de graduação em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Faculdade de Estudos Avançados do Pará (Feapa), uma questão permeava os debates em sala de aula: apesar de muito estudada em diversos campos do conhecimento, há, por outro lado, certo desconhecimento em relação à Amazônia, inclusive por parte dos próprios nativos da região, como eu.
A complexidade amazônica exige de quem quer compreendê-la um olhar demasiado atento e, principalmente, interdisciplinar. Apesar da recorrente predominância da centralidade das discussões sobre a região em torno da questão ambiental, este mesmo campo perpassa áreas como a economia, história, sociologia/antropologia e, por que não, a própria comunicação.
De acordo com o sociólogo e jornalista paraense, Lúcio Flávio Pinto, editor do periódico alternativo quinzenal Jornal Pessoal, para alguém dizer que conhece minimamente a Amazônia precisa, pelo menos, já ter visitado o Porto de Trombetas, a UHD de Tucuruí, Barcarena e as minas de Carajás. Confesso, envergonhado, que ainda não vi de perto tais lugares. Mas essa é apenas uma das formas de se aproximar, pela via socioeconômica, da complexa dimensão amazônica.
Há, contudo, outros caminhos a serem percorridos no intuito de compreender a Amazônia. Na academia, por exemplo, duas linhas de pesquisa chamam-me a atenção: a invisibilidade urbana do homem amazônico ante a dominância do discurso ambiental e a dimensão estética da cultura amazônica a partir da conversão semiótica realizada por seus habitantes.
Entendo estas duas vias não como contraditórias, mas sim, complementares. Se, por um lado, desconsidera-se o amazônida na sua experiência de vida com a floresta – a sociabilidade nativa; por outro, revela-se não só a existência deste homem como, ainda, sua relação filosófica com sua própria cultura (diga de passagem, cultura popular).
É no interstício entre estes dois caminhos que pretendo abrir uma perspectiva de pesquisa, por meio da observância da cultura popular amazônica. Antes de pensar o que nós (acadêmicos, formados pela educação euro-ocidental, urbanos modernos) sabemos sobre a Amazônia, interessa-me verificar o que diz o amazônida (ribeirinho, caboclo) sobre si mesmo e a região.
A complexidade amazônica exige de quem quer compreendê-la um olhar demasiado atento e, principalmente, interdisciplinar. Apesar da recorrente predominância da centralidade das discussões sobre a região em torno da questão ambiental, este mesmo campo perpassa áreas como a economia, história, sociologia/antropologia e, por que não, a própria comunicação.
De acordo com o sociólogo e jornalista paraense, Lúcio Flávio Pinto, editor do periódico alternativo quinzenal Jornal Pessoal, para alguém dizer que conhece minimamente a Amazônia precisa, pelo menos, já ter visitado o Porto de Trombetas, a UHD de Tucuruí, Barcarena e as minas de Carajás. Confesso, envergonhado, que ainda não vi de perto tais lugares. Mas essa é apenas uma das formas de se aproximar, pela via socioeconômica, da complexa dimensão amazônica.
Há, contudo, outros caminhos a serem percorridos no intuito de compreender a Amazônia. Na academia, por exemplo, duas linhas de pesquisa chamam-me a atenção: a invisibilidade urbana do homem amazônico ante a dominância do discurso ambiental e a dimensão estética da cultura amazônica a partir da conversão semiótica realizada por seus habitantes.
Entendo estas duas vias não como contraditórias, mas sim, complementares. Se, por um lado, desconsidera-se o amazônida na sua experiência de vida com a floresta – a sociabilidade nativa; por outro, revela-se não só a existência deste homem como, ainda, sua relação filosófica com sua própria cultura (diga de passagem, cultura popular).
É no interstício entre estes dois caminhos que pretendo abrir uma perspectiva de pesquisa, por meio da observância da cultura popular amazônica. Antes de pensar o que nós (acadêmicos, formados pela educação euro-ocidental, urbanos modernos) sabemos sobre a Amazônia, interessa-me verificar o que diz o amazônida (ribeirinho, caboclo) sobre si mesmo e a região.
terça-feira, 17 de agosto de 2010
XIV Feira Pan-Amazônica do Livro
Caco Barcellos, Carlos Heitor Cony e Ariano Suassuna são alguns dos nomes consagrados no Jornalismo e na literatura brasileira que estarão na XIV Feira Pan-Amazônica do Livro. Com o tema "África: povo que fala português", a Feira será realizada de 27 de agosto a 05 de setembro, no Hagar.
O patrono da Feira este ano será o poeta e escritor paraense Bruno de Menezes, conhecido por tratar da africanidade em suas obras.
Para saber mais sobre o evento, acesse o Portal Cultura: http://www.portalcultura.com.br/?site=2&pag=conteudo&mtxt=19357&cabeca=Belém%20abre%20as%20portas%20para%20a%20literatura
O patrono da Feira este ano será o poeta e escritor paraense Bruno de Menezes, conhecido por tratar da africanidade em suas obras.
Para saber mais sobre o evento, acesse o Portal Cultura: http://www.portalcultura.com.br/?site=2&pag=conteudo&mtxt=19357&cabeca=Belém%20abre%20as%20portas%20para%20a%20literatura
Inabilidades com o eu II (sobre o sentido da luz)
O princípio da luz perpassa a história da arte desde as pinturas rupestres, tendo seu auge nas obras impressionistas de pintores como Van Gogh. A luz, porém, também foi pensada pela filosofia grega platônica, sendo associada ao Divino. Neste caso, seu oposto seria a matéria, densa e obscura.
Desde a escola barroca, com destaque para o Romantismo, a luz foi utilizada como técnica para acentuar a dramaticidade nas telas, pelo contraste entre luz e sombra. É sobre essa luz dramática que penso quando volto-me para dentro de mim e reflito quanto à aprendizagem. Explico.
A sensação de ser pequeno para meu corpo era (e talvez ainda seja um pouco) acompanhada da impressão de encontrar-me disperso no escuro de-dentro. Perdido. Encolhido. E, claro, essa situação era incômoda. Mas nem por isso desesperadora. Era como estar em um quarto com a porta e as janelas fechadas.
Essa escuridão, para mim, tornava-se uma forma de incompreensão: de meu eu, da vida - a existência como um todo. Não que hoje eu compreenda tudo, pelo contrário, entendo a compreensão como um processo ininterrupto, não como um fim. E creio me encontrar agora no caminho para este processo.
Desde a escola barroca, com destaque para o Romantismo, a luz foi utilizada como técnica para acentuar a dramaticidade nas telas, pelo contraste entre luz e sombra. É sobre essa luz dramática que penso quando volto-me para dentro de mim e reflito quanto à aprendizagem. Explico.
A sensação de ser pequeno para meu corpo era (e talvez ainda seja um pouco) acompanhada da impressão de encontrar-me disperso no escuro de-dentro. Perdido. Encolhido. E, claro, essa situação era incômoda. Mas nem por isso desesperadora. Era como estar em um quarto com a porta e as janelas fechadas.
Essa escuridão, para mim, tornava-se uma forma de incompreensão: de meu eu, da vida - a existência como um todo. Não que hoje eu compreenda tudo, pelo contrário, entendo a compreensão como um processo ininterrupto, não como um fim. E creio me encontrar agora no caminho para este processo.
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